TRABALHO E TRABALHADORES: CONTEXTUALIZAÇÕES NECESSÁRIAS / Elina Pietrani (org.) / Ana Cecília Álvares Salis (org.)
Chegamos ao século XXI e assistimos, surpresos, a uma reviravolta no campo do trabalho. O trabalhador agora tem que lidar constantemente com expressões como trabalho intermitente, fim do emprego, automação do trabalho, Inteligência Artificial, Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), o que vem gerando profundas mudanças na relação homem-trabalho. Pensando nisso, este estudo foi organizado a partir de temas que pudessem abrir espaço para uma reflexão sobre o trabalho e suas nuances em vigor no mundo contemporâneo. Nesse sentido, procuramos discutir acerca da inclusão social da “loucura” e o mercado formal de trabalho. Procuramos inicialmente problematizar os agenciamentos discursivos que se apoderaram do fenômeno da loucura ao longo da história – tanto para justificar práticas violentas e segregacionistas quanto para determinar o lugar social a ser ocupado pelos “loucos”. Em seguida, colocamos em pauta a experiência da autora em um projeto pioneiro de inclusão social pela via do trabalho formal, o Projeto Gerência de Trabalho (PGT), o qual se apresenta como modelo de uma nova prática de cuidados no campo da saúde mental, cujo objetivo é o estabelecimento de condições de acesso e permanência de pessoas com transtorno mental no mercado formal de trabalho. Nessa direção, apresentamos também a discriminação racial como uma forma de violência que ainda assombra o mundo do trabalho, e que vem se perpetuando historicamente no mercado de trabalho brasileiro, deixando à margem do trabalho pessoas que poderiam contribuir com o processo produtivo, mas deixam de fazê-lo por conta de uma longa trajetória de descaso e preconceito em relação à pessoa negra. Na sequência, convidamos para uma reflexão sobre a morfologia do trabalho que vem se desenhando a partir das ofensivas neoliberais, no Brasil, a partir de 2016, quando governos alinhados com projetos civilizatórios do capital passaram a comandar mudanças radicais no mundo do trabalho. Mas, é preciso uma reflexão também a partir de outros fundamentos. Dessa forma, vamos buscar na Psicanálise, mais especificamente no conceito de sublimação, novos olhares para pensar o trabalho prescrito e o trabalho real. A sustentabilidade também se faz presente quando o tema é trabalho no século XXI. Assim, partindo da (des)articulação entre trabalho e ecologia, discutimos a ênfase de modelos reducionistas na trajetória da globalização e nos efeitos dessa construção na inclusão-pertença e exclusão-inclusão dos eco trabalhadores nas propostas de sustentabilidade. Por fim, passando pelo surgimento da burguesia, a história segue seu percurso com a padronização dos processos de produção na era Taylor, até chegar à acumulação flexível do sistema toyotista, em que vemos cair por terra a promessa de emprego pleno, seguro e estável. A partir de uma análise histórica dessa trajetória, colocamos em pauta os impactos psicossociais dessa nova morfologia do trabalho sobre o trabalhador. Em tempos de usurpação de direitos trabalhistas, obtidos após séculos de lutas, e de práticas organizacionais que intensificam a discriminação, a exploração do trabalhador e a sedimentação cada vez mais abrangente de políticas neoliberais em todo o mundo, que colocam o trabalhador visivelmente em plano secundário, discutir o mundo laboral nos permite compreender essa dinâmica que envolve e precariza o trabalho em escala crescente.
Elina Eunice Montechiari Pietrani
Graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-Goiás), pós-graduação em Gestão Empresarial pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e mestrado em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Desenvolve estudos e pesquisas referentes às questões que envolvem a relação homem-trabalho e seus impactos psicossociais. É docente na Universidade Veiga de Almeida no curso de graduação em Psicologia e na pós-graduação no curso de Gestalt-terapia. É docente também na Faculdade Arthur Sá Earp Neto/Faculdade de Medicina de Petrópolis, no curso de graduação em Psicologia.
Ana Cecília Álvares Salis
Psicóloga clínica; Pós-graduada em Teoria Psicanalítica; Coordenadora e Supervisora de grupos de Acompanhamento Terapêutico (AT); Supervisora clínica no Setor de Psicoterapia do Serviço de Psiquiatria da Santa Casa da Misericórdia, RJ (Bolsista CNPq, 1989/1992); Pesquisadora da Academia Brasileira de Ciências - Programa Integrando - (bolsista da FAPERJ, 2004/2006); Coordenadora do Núcleo de Geração de Renda do IMNS/RJ, 2007/2009. Coordenadora do Projeto Gerência de Trabalho (PGT) na empresa Prezunic Comercial – Cencosud S.A.; Diretora/presidente da empresa Ana Salis PGT: Consultoria em Trabalho Assistido Ltda; Vencedora do Prêmio “Ser Humano” promovido pela Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH/RJ), edição 2010.
Serviço:
Trabalho e trabalhadores
Contextualizações necessárias
Contextualizações necessárias
Elina Pietrani (org.)
Ana Cecília Álvares Salis (org.)
Scortecci Editora
Trabalho
ISBN 978-85-366-6142-1
Formato 14 x 21 cm
132 páginas
1ª edição - 2020