NELSON DE CASTRO SENRA - AUTOR DO LIVRO "A TRAJETÓRIA JURÍDICO-POLÍTICA DE UM MONARQUISTA PROVINCIANO"
Nelson de Castro Senra é Doutor em Ciência da Informação (Eco/UFRJ), Mestre em Economia (EPGE / FGV-RJ), e Bacharel em Economia (UCAM-RJ)
Pesquisador e Professor no IBGE (aposentado) onde atuou na produção e na disseminação das estatísticas, até que passou ao campo da pesquisa sócio-histórica da atividade estatística, em que é autor de vários livros e textos. Desse campo de pesquisa resultou (em 2023) a seleção de ensaios: Pensando a Informação Estatística, como um eterno aprendiz
Entrementes, paralelamente, atuou numa linha de memórias familiares: 1) Em busca do amanhã (2018), 2) Idas e vindas pelo mundo (2020), 3) Herança do Santo Ofício (2021), 4) Idas e vindas pelo Brasil. Memória quase perdida (2021).
E como diversão escreveu algumas pequenas aventuras ficcionais: Confissões de um artista nas brumas e Memórias de um escritor nas sombras (ambas em 2021); O escolhido (2022) e Supressão da escravidão (uma ucronia, em 2023).
É sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro – IHGRJ (onde ocupa a cadeira 38, patrono Noronha Santos).
A trajetória jurídico-politica de um monarquista provinciano
Jurei a Constituição, mas ainda que não a jurasse, seria ela para mim uma segunda religião.
Nada devo, e quando contraio uma dívida cuido logo de pagá-la, e a escrituração das despesas de minha casa pode ser examinada a qualquer hora. Não ajunto dinheiro.
É preciso trabalhar e vejo que não se fala quase senão em política que é, as mais das vezes, guerra entre interesses individuais.
Dom Pedro II
(em seus diários)
Monarquista apaixonado, admirador ao extremo de D. Pedro II, o personagem cuja trajetória jurídico-política focamos neste livro teria, por certo, lido e relido os diários do Imperador, se os mesmos já lhe fossem disponíveis. Em saraus e tertúlia eles seriam postos em debates para deleite dos monarquistas ainda remanescentes, e em provocação aos republicanos já decepcionados ao rápido passar do tempo... pois não viera o que sonharam.
Estamos falando de Joaquim Barbosa de Castro, formado em Direito em São Paulo – nas Arcadas – em 1863, que transitou pelos Tribunais, no exercício da advocacia e da magistratura, e pelas Câmaras, no exercício do legislativo e do executivo. Foi laureado com a patente de Coronel-Comandante da Guarda Nacional, bem assim, com o título de Barão d’Além Paraíba, tendo sido ainda Vice-Presidente da Província de Minas Gerais.
Com o golpe militar contra a ordem monárquica, não aderiu à quartelada dos triúnviros Constant / Floriano / Deodoro, como dizia e sempre nessa ordem, e nunca lhes poupou críticas. Diante daquele evento, deixou seus afazeres jurídico-políticos, afastou-se de Mar de Espanha, MG, e foi viver alhures. Passou o tempo, e das alturas desceu às planuras, mas sempre de cabeça erguida. Viu-se pobre, mas não tirou a gravata...
ENTREVISTA
Olá Nelson. É um prazer contar com a sua participação no Portal do Escritor
Do que trata o seu Livro?
Da trajetória jurídico-político de um monarquista provinciano. Joaquim Barbosa de Castro, titulado Barão d’Além Paraíba, formado em Direito na então referida como Arcadas – Escola de Direito de São Paulo –, tanto transitou pelos tribunais como promotor, como advogado, como magistrado, quanto como político, tendo sido eleito para a Câmara Municipal da cidade de Mar de Espanha, e como tal ao assumir sua presidência, acumulava o Executivo da cidade, como eram as práticas de então. Foi uma pessoa muito influente não apenas na cidade, mas em ampla região ao seu entorno, a ponto de ter sido nomeado pelo Imperador Coronel-Comandante da Guarda Nacional de vasta região, naquelas redondezas (tenha-se em mente que a patente mais elevada da GN era a de Tenente-Coronel, donde a patente de Coronel só poderia ser concedida pelo Imperador).
Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Foi uma decisão pessoal / familiar, já que o personagem é meu bisavô. Mas a obra pode interessar a todos que se interessam sobre a formação da elite da época, e como se dava o jogo de influência na política regional (para além de local). No seu caso acresce uma questão muito interessante que foi sua não adesão à República, o que o levou ao afastamento da vida pública, ao isolamento dos amigos, e ao gradual empobrecimento, sem jamais, contudo, perder a nobreza no agir e no se comportar, sempre repudiando aqueles a quem chamava de golpistas contra a Monarquia. Em especial tinha horror a Floriano Peixoto.
Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Meus primeiros livros, e foram muitos (quase todos eles disponíveis em meio digital no acervo do IBGE) foram feitos no campo da pesquisa sócio-histórica da atividade estatística, desde o período colonial até os dias de hoje. Também tenho livros sobre Metodologia da Pesquisa, matéria que lecionei por muitos anos, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Além dos livros que publiquei pelo IBGE, também publiquei livros pela UERJ, pela Fundação João Pinheiro (Coleção Mineiriana). Em tempos mais recentes fiz vários livros de memórias familiares, deixando registrados para meus filhos assuntos que talvez eles viessem a esquecer com o tempo, não obstante eu já lhes ter contato muitas vezes. E me aventurei em algumas pequenas novelas, por mera distração. Agora, além de tantos livros, e de ter três filhos e um neto, nunca plantei uma árvore....
O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Para quem vive do exercício da escrita imagino que seja realmente muito difícil. Não foi o meu caso, pois os livros que fiz estando no IBGE estavam na natureza do meu trabalho (o que me era um privilégio, devo confessar, pois fazia o que gostava, e era admirado pelo que fazia, sendo sempre muito bem aceito por isso, já que havia um vazio na história que revelava). Nas demais obras de natureza memorialística, raramente a ponho em comércio, sempre a limitando à família e a amigos (sempre lhes dizendo que não lhes faço dedicatória para que tenham maior facilidade de se desfazerem dos presentes, se os acharem inconvenientes). Enfim, a maior parte deles, ficam apenas in pectore.
Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Foi através das designers do IBGE. Pedi alguma indicação, e não hesitaram em me passar o nome da Scortecci Editora. E desde o primeiro momento sempre gostei do atendimento e do trabalho realizado. Mas como não gosto de tratar com a tecnicidade do envio de livro para uma editora (vive isso quando dirigi o Centro de Documentação e Disseminação de Informações, do IBGE, onde, entre outras unidades há uma editora, com todo seu aparato, desde a área de revisão, de designer, de documentação, de gráfica etc.), ao fazer a arte de meus livros, contrato a designer (Mari Taboada, a quem adoro), também a contrato para fazer a relação com a Scortecci.
O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Diria que sim, como falei antes. Ele bem nos mostra que a República que temos, e que começou com um golpe militar, com o povo simplesmente bestificado, assistindo alguns poucos soldados desfilando pelas ruas da Corte, como disse Aristides Lobo, sem entender nada. Há situações grotescas tanto naquele início, quanto ao seguir por toda a Primeira República, valendo lembrar, como um simples exemplo, que os republicanos de origem (principalmente os paulistas que a dominaram no início, logo após a ditadura militar) eram escravocratas, donde não tiveram o menor interesse em completar o processo de abolição. Claro, fazer história na condicional, se, é ocioso, mas talvez uma sequência de gabinete com Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e tantos outros talvez tivessem promovido uma integração dos ex-escravos à Sociedade Brasileira. Pois esse livro ajuda a pensar questões assim, ainda que não as trate diretamente.
Maria Cristina AndersenPesquisador e Professor no IBGE (aposentado) onde atuou na produção e na disseminação das estatísticas, até que passou ao campo da pesquisa sócio-histórica da atividade estatística, em que é autor de vários livros e textos. Desse campo de pesquisa resultou (em 2023) a seleção de ensaios: Pensando a Informação Estatística, como um eterno aprendiz
Entrementes, paralelamente, atuou numa linha de memórias familiares: 1) Em busca do amanhã (2018), 2) Idas e vindas pelo mundo (2020), 3) Herança do Santo Ofício (2021), 4) Idas e vindas pelo Brasil. Memória quase perdida (2021).
E como diversão escreveu algumas pequenas aventuras ficcionais: Confissões de um artista nas brumas e Memórias de um escritor nas sombras (ambas em 2021); O escolhido (2022) e Supressão da escravidão (uma ucronia, em 2023).
É sócio efetivo do Instituto Histórico e Geográfico do Rio de Janeiro – IHGRJ (onde ocupa a cadeira 38, patrono Noronha Santos).
A trajetória jurídico-politica de um monarquista provinciano
Jurei a Constituição, mas ainda que não a jurasse, seria ela para mim uma segunda religião.
Nada devo, e quando contraio uma dívida cuido logo de pagá-la, e a escrituração das despesas de minha casa pode ser examinada a qualquer hora. Não ajunto dinheiro.
É preciso trabalhar e vejo que não se fala quase senão em política que é, as mais das vezes, guerra entre interesses individuais.
Dom Pedro II
(em seus diários)
Monarquista apaixonado, admirador ao extremo de D. Pedro II, o personagem cuja trajetória jurídico-política focamos neste livro teria, por certo, lido e relido os diários do Imperador, se os mesmos já lhe fossem disponíveis. Em saraus e tertúlia eles seriam postos em debates para deleite dos monarquistas ainda remanescentes, e em provocação aos republicanos já decepcionados ao rápido passar do tempo... pois não viera o que sonharam.
Estamos falando de Joaquim Barbosa de Castro, formado em Direito em São Paulo – nas Arcadas – em 1863, que transitou pelos Tribunais, no exercício da advocacia e da magistratura, e pelas Câmaras, no exercício do legislativo e do executivo. Foi laureado com a patente de Coronel-Comandante da Guarda Nacional, bem assim, com o título de Barão d’Além Paraíba, tendo sido ainda Vice-Presidente da Província de Minas Gerais.
Com o golpe militar contra a ordem monárquica, não aderiu à quartelada dos triúnviros Constant / Floriano / Deodoro, como dizia e sempre nessa ordem, e nunca lhes poupou críticas. Diante daquele evento, deixou seus afazeres jurídico-políticos, afastou-se de Mar de Espanha, MG, e foi viver alhures. Passou o tempo, e das alturas desceu às planuras, mas sempre de cabeça erguida. Viu-se pobre, mas não tirou a gravata...
ENTREVISTA
Olá Nelson. É um prazer contar com a sua participação no Portal do Escritor
Do que trata o seu Livro?
Da trajetória jurídico-político de um monarquista provinciano. Joaquim Barbosa de Castro, titulado Barão d’Além Paraíba, formado em Direito na então referida como Arcadas – Escola de Direito de São Paulo –, tanto transitou pelos tribunais como promotor, como advogado, como magistrado, quanto como político, tendo sido eleito para a Câmara Municipal da cidade de Mar de Espanha, e como tal ao assumir sua presidência, acumulava o Executivo da cidade, como eram as práticas de então. Foi uma pessoa muito influente não apenas na cidade, mas em ampla região ao seu entorno, a ponto de ter sido nomeado pelo Imperador Coronel-Comandante da Guarda Nacional de vasta região, naquelas redondezas (tenha-se em mente que a patente mais elevada da GN era a de Tenente-Coronel, donde a patente de Coronel só poderia ser concedida pelo Imperador).
Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
Foi uma decisão pessoal / familiar, já que o personagem é meu bisavô. Mas a obra pode interessar a todos que se interessam sobre a formação da elite da época, e como se dava o jogo de influência na política regional (para além de local). No seu caso acresce uma questão muito interessante que foi sua não adesão à República, o que o levou ao afastamento da vida pública, ao isolamento dos amigos, e ao gradual empobrecimento, sem jamais, contudo, perder a nobreza no agir e no se comportar, sempre repudiando aqueles a quem chamava de golpistas contra a Monarquia. Em especial tinha horror a Floriano Peixoto.
Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. É o primeiro livro de muitos ou apenas o sonho realizado de plantar uma árvore, ter um filho e escrever um Livro?
Meus primeiros livros, e foram muitos (quase todos eles disponíveis em meio digital no acervo do IBGE) foram feitos no campo da pesquisa sócio-histórica da atividade estatística, desde o período colonial até os dias de hoje. Também tenho livros sobre Metodologia da Pesquisa, matéria que lecionei por muitos anos, tanto na graduação quanto na pós-graduação. Além dos livros que publiquei pelo IBGE, também publiquei livros pela UERJ, pela Fundação João Pinheiro (Coleção Mineiriana). Em tempos mais recentes fiz vários livros de memórias familiares, deixando registrados para meus filhos assuntos que talvez eles viessem a esquecer com o tempo, não obstante eu já lhes ter contato muitas vezes. E me aventurei em algumas pequenas novelas, por mera distração. Agora, além de tantos livros, e de ter três filhos e um neto, nunca plantei uma árvore....
O que você acha da vida de escritor em um Brasil com poucos leitores e onde a leitura é pouco valorizada?
Para quem vive do exercício da escrita imagino que seja realmente muito difícil. Não foi o meu caso, pois os livros que fiz estando no IBGE estavam na natureza do meu trabalho (o que me era um privilégio, devo confessar, pois fazia o que gostava, e era admirado pelo que fazia, sendo sempre muito bem aceito por isso, já que havia um vazio na história que revelava). Nas demais obras de natureza memorialística, raramente a ponho em comércio, sempre a limitando à família e a amigos (sempre lhes dizendo que não lhes faço dedicatória para que tenham maior facilidade de se desfazerem dos presentes, se os acharem inconvenientes). Enfim, a maior parte deles, ficam apenas in pectore.
Como você ficou sabendo e chegou até a Scortecci Editora?
Foi através das designers do IBGE. Pedi alguma indicação, e não hesitaram em me passar o nome da Scortecci Editora. E desde o primeiro momento sempre gostei do atendimento e do trabalho realizado. Mas como não gosto de tratar com a tecnicidade do envio de livro para uma editora (vive isso quando dirigi o Centro de Documentação e Disseminação de Informações, do IBGE, onde, entre outras unidades há uma editora, com todo seu aparato, desde a área de revisão, de designer, de documentação, de gráfica etc.), ao fazer a arte de meus livros, contrato a designer (Mari Taboada, a quem adoro), também a contrato para fazer a relação com a Scortecci.
O seu livro merece ser lido? Por quê? Alguma mensagem especial para seus leitores?
Diria que sim, como falei antes. Ele bem nos mostra que a República que temos, e que começou com um golpe militar, com o povo simplesmente bestificado, assistindo alguns poucos soldados desfilando pelas ruas da Corte, como disse Aristides Lobo, sem entender nada. Há situações grotescas tanto naquele início, quanto ao seguir por toda a Primeira República, valendo lembrar, como um simples exemplo, que os republicanos de origem (principalmente os paulistas que a dominaram no início, logo após a ditadura militar) eram escravocratas, donde não tiveram o menor interesse em completar o processo de abolição. Claro, fazer história na condicional, se, é ocioso, mas talvez uma sequência de gabinete com Joaquim Nabuco, José do Patrocínio e tantos outros talvez tivessem promovido uma integração dos ex-escravos à Sociedade Brasileira. Pois esse livro ajuda a pensar questões assim, ainda que não as trate diretamente.
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