A TALHA / Fátima Trinchão
TALHA
Talha de barro, pote,
Talha de pote, bilha,
Talha que é bilha, é vaso,
E vaso que é moringa,
Moringa que é porrão,
Porrão que é quartião,
Quartião que guarda água,
Água fresca do rio,
Água sagrada d’Oxum.
Água que vem e refresca,
Fonte bendita,
Não seca.
Água
Que cura as minhas dores,
Que sacia minha sede
Nas noites de calor,
Insones;
Talha de barro é pote
Que guarda a água
Bendita.
Talha de barro que é bilha,
Talha que brilha
É vaso
Que guarda a água
Bendita,
Água que vem e refresca,
Do reino que Oxum governa,
Que sacia a minha sede,
Que cura as minhas dores,
Fonte Divina,
Não seca!
O relógio
A areia fina da
ampulheta escorre
Por entre os vãos, lá fora,
E o porvir está mais próximo que
Distante.
O grande e
extremo segredo
É o agora!
Olho o relógio e o
seu pêndulo,
Marcando as horas e
os segundos,
Num ritmo grave e lento,
Num processo diuturno,
Prolongado e ponderado,
Atento e cadenciado,
Duradouro e permanente,
Enquanto somos presentes,
Clepsidras bem-dispostas,
Num salão hirto e frio,
A escutar paciente,
O causídico e seu discurso,
Em defender veemente
O réu que se quer inocente!
Em tão breve-longa jornada,
O relógio e o seu pêndulo,
A marcar inclemente,
Ativo e acelerado,
Nos segundos e horas,
Em momentos de
paz suprema,
Suprema felicidade,
Que em êxtase, miragem,
Rogamos-lhe humildemente,
Pedindo-lhe que parasse,
Mas os ponteiros,
Ignorando o meu grito,
Avançam,
Incomplacentes,
Solenes, graves, bonitos,
Num ritmo cadenciado,
Rumando ao Infinito.
Tic tac, tic tac, tic tac.
Serviço:
A Talha
Fátima Trinchão
Scortecci Editora
Poesia
ISBN 978-85-366-6700-3
Formato 14 x 21 cm
184 páginas
2ª edição - 2024