CONTOS DOS CAMPOS DE CIMA DA SERRA / Sady Carlos de Souza Jr.



O estilo fácil com que os Contos dos Campos de Cima da Serra exercem na enunciação de suas histórias remete a algo telúrico, original e orgânico, sem deixar de ensejar seu lado curioso, obscuro, onde se destacam apontamentos que mereceriam atenção especial. Por isso, sua narrativa discricional acaba por ocupar uma importância maior que as próprias relações intersubjetivas que os personagens asseveram. Por exemplo, quando ao realçar explicações sobre o “susto” em Rosa Ana, os “milésimos de segundos” em Carlitos, o “canibalismo” na primeira crônica, o “pesadelo sem fim” em Cáspio, o “túnel” como um binóculo invertido do inconsciente, o “ódio” do músculo torcido, um desenho de grafite que se desprega da parede, a visualização da nudez através das roupas, entre outros, tudo tende a sair da caixa, do lugar-comum das explicações, deixando o leitor banhar-se do aparentemente impossível e inusitado, em suas relações rotineiras de coisas que não consideramos como parte do mundo real, mas que o são para o autor.

São dezessete contos de histórias contextualizadas aos referenciais do ambiente gaúcho da região dos Campos de Cima da Serra, que se localiza ao nordeste do estado do Rio Grande do Sul. O autor é nativo gaúcho dessa região sulista e inspirou-se em momentos realmente vivenciados por ele algum tempo atrás. O estilo de Contos dos Campos de Cima da Serra revela certo gosto do autor pela narração — digamos — de “causos” numa roupagem nova, sintética, na atualização de um contexto suave, casual, que aparentemente ocorra no cotidiano do dia a dia. A narrativa prima pela peculiaridade de ser descritiva de casos pontuais, contornando subjetividades; mesmo assim, alguns aspectos se sobressaem ultrapassando as vias naturais psicológicas, indo mais além dos fenômenos conhecidos pelos meios extrafísicos. O elemento psíquico da falta, da busca, da ânsia por se completar, talvez percorra os conteúdos abrangidos como lugar-comum dos diversos contos apresentados. Eles traduzem aspectos vibrantes em cada personagem, que desencadeiam um lado seu, insólito, que ultrapassa as fronteiras do conhecido. O desconhecido é o combustível motor que inflama a vontade de continuar a leitura, oportunizando seu rápido término. De alguma forma, o estilo autoral já está no seu primeiro livro de contos, chamado Contos de Areia de Itanhaém. O autor aproveita-se de algumas notas da desconstrução psicológica humana para puxar dali todo um arsenal subliminar, que se perderia, se não o atualizasse, aproveitando-se das cerradas noites dos tempos frios do clima gaúcho.

Sady Carlos de Souza Jr. é gaúcho de Caxias do Sul. Formou-se em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul e tem mestrado em Linguística/Semiótica pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP). É analista acadêmico da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e professor de Filosofia da rede pública do estado de São Paulo. Publicou o livro de dramaturgia Fiuuinn, o Último Aviso à Terra, pela Editora Giostri, em 2021, Contos de Areia de Itanhaém, pela Scortecci Editora, em 2022, e Fúrias Totêmicas da Alma, pela Editora Appris, em 2023.

Serviço:

Contos dos Campos de Cima da Serra
Sady Carlos de Souza Jr.

Scortecci Editora
Contos
ISBN 978-85-366-6792-8
Formato 14 x 21 cm
160 páginas
1ª edição - 2024
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