DAVAMBE - AUTOR DO LIVRO "MINHA MÃE, MEU BALUARTE"

Davambe é o nome literário de Geraldo Davambe Chibure Nhalungo.
Nasceu em Maputo, Moçambique, em 1959. No Brasil estudou engenharia de software, literatura e linguística. É romancista e consultor de TI. Possui certificações internacionais como DPO, PSM, ITIL, COBIT, Agile Coach, entre outras. Escreveu os seguintes romances:
A nuvem se dissipa / Nhatsi – Elos e laços / A sereia de Tupã /
Tanto lá quanto cá / O segredo da Felismina.
 
Minha mãe, meu Baluate
Deixa contar uma coisa a vocês, meus amigos. Quem fica em uma fogueira esquentando o peito não tem tempo de esquentar as costas que padecem de frio. Ter o fogo como espectador faz esquecer o perigo que lhe pode atingir pelas costas. Eu era uma pedra, as pessoas passavam por mim, sem dar a devida importância, ora me pisando, ora se desviando. Em um belo dia, alguém me pegou e jogou em um passarinho que comia uma suculenta fruta. Arremessado, atingi mortalmente o passarinho desgraçado, então, me transformei em semente que o pássaro comeu. A natureza permitiu que a semente virasse árvore e, anos depois, eu era uma árvore frutífera, alimentando os seres humanos e os pássaros. Como tudo se movimenta, um malvado menino trepou em mim para pegar frutas, ficou saboreando os frutos até que seu irmão, inconsequente, botou lume na floresta que se transformou em um fogo insuportável a queimar capim e árvores. Quando o menino viu o que o fogo fazia com o capim, não desceu, ficou grudado desesperado. O fogo comia alvoroçadamente o capim e as árvores como um elefante faminto. A floresta ardia junto com o menino. Ele tentou descer, mas desistiu e segurou-se à árvore. Seu gemido se misturava com o da floresta, os animais corriam para lugar nenhum. O menino morreu carbonizado na árvore. Num tempo não longe desse acontecimento, houve muita chuva e a enxurrada arrastou as lembranças do tempo triste. A tristeza foi substituída pela alegria de ver o rio correndo e os peixes pulando na água. Foi nesse tempo que senti que era feito feto, nadando no útero, como os peixes nadavam no rio. Contei nove meses dentro daquela piscina encolhido, a ganhar massa e água à medida que o tempo passava, até que fui expulso do útero, caindo no mundo exterior, não resisti: chorei. Lembro-me como se hoje fosse, chorei o suficiente para nunca mais desejar chorar por nada. Todas as minhas tristezas guardo-as comigo, o tempo me ensinou a chorar derramando lágrimas para dentro de mim, assim, não assusto as pessoas. Basta de viver assustando outras pessoas. Foi deste modo que tudo aconteceu, meus companheiros de jornada.

Xidjana é um jovem herói da revolução, foi quem elaborou e distribuiu o primeiro panfleto que instigava o povo a se rebelar contra o governo colonial e acabou exilado na Ilha Solitária, onde passou o maior tempo comendo gafanhotos até ser libertado com outros dissiden-tes. Preterido pelo grupo, assiste a distância à convulsão social de transição para a independência. Só ele percebe o presente, os demais vivem ocupados em se vingar do passado, esquecendo-se de viver o precioso presente que lhes é oferecido. Ele não é ninguém em seu próprio país. Havia retornado e agora vive invisível, como se algo o proibisse de ser herói, talvez devido a sua cor ou falta dela.
 
ENTREVISTA
 
Ola Geraldo Davambe.  É um prazer contar, novamente, com a sua participação no Portal do livro.
 
Do que trata o seu Livro?
O projeto deste livro é um tributo a todas as mães que tem uma das tarefas de formar um ser humano, no meio de tantos tufões e interferências. Surge da necessidade de agradecer a única pessoa que confiou em mim deste a tenra idade, quando comecei a caminhar foi a única pessoa no mundo que disse: “continue você vai conseguir”. Este livro destina-se a todos os jovens de 12 a 86 anos.

Como surgiu a ideia de escrevê-lo e qual o público que se destina sua obra?
O projeto surgiu da necessidade apoio e contribuição para pessoas, alunos em comunidades em geral que compartilham o mesmo espaço e ou contemplar as diversidades que transitam no mesmo ambiente.

Fale de você e de seus projetos no mundo das letras. O primeiro de muitos ou um sonho realizado?
Sou moçambicano, estudei engenharia de software, literatura e linguística, no Brasil. Leio e escrevo por prazer, tenho compromisso de registrar a história de moçambicano na diáspora. Publiquei 6 romances e pretendo continuar a escrever, é uma maneira que encontrei para enganar o tempo e espantar a saudade.

O que você acha da vida de escritor no Brasil: um país de poucos leitores e onde a leitura não é valorizada?
O escritor brasileiro é privilegiado por possuir paisagens e ou cenários infinitos. Tenho impressão de que a população começa a ensaiar gosto pela literatura e isso me entusiasma a ler e escrever cada vez mais.

Como ficou sabendo do trabalho editorial e gráfico da Scortecci?
Tenho publicado 5 livros pela editora, aprecio a qualidade e admiro como tratam o projeto, quando o processo para publicação é iniciado. Cheguei a editora pela indicação de um amigo escritor.

O seu livro merece ser lido? O que ele tem de especial capaz de encantar leitores?
O meu livro merece ser lido, é uma raridade, agrega valor ao leitor, faz lembrar da importância de demonstrar a apreciação e gratidão a nossa mãe, a qualquer momento e quando em vida melhor. É ela quem nos proteja desde os primeiros segundos da nossa existência e segura o nosso bracinho para receber a primeira vacina, acompanha os tombos que levamos na tentativa de dar os primeiros passos.

Maria Cristina Andersen
Revista do Livro

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